Para esse mês escolhi como tema a Infidelidade. Assunto que gera polêmicas e consequências... E inspira! Tem uma novidade: a cada post, sugiro uma música para o momento da leitura.Selecionei algumas que gosto muito, dentre tantas que ouço na minha lista de reprodução vasta enquanto escrevo.Vozes femininas, pra dar aquele clima!. Espero que gostem!
Boa leitura a todos!
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
FEBRE
(Leia ouvindo "Mysterons" do Portishead)
Antes de me encontrar assim, praticamente não-viva, posso afirmar de vivi intensamente. Provei de muitos prazeres. Provei muitos corpos. Muitos sabores. Homens, mulheres, quem atravessasse em meu caminho. O doce sabor da promiscuidade estava em meus lábios. E em cada gesto meu. Todos os dias. E eu fui feliz por muito tempo, enquanto não havia sentimentos...
Meu erro talvez tenha sido atender os chamados deles. Ele era um homem forte, sem muito tempo pra si próprio. E muito ardente, quando estava comigo. Passávamos algum tempo em sua cama, onde ele me despia com violência e tomava meu corpo como se fosse seu alimento. Ele me chamava, eu atendia. Com o passar dos dias, tornei-me escrava de seus desejos. E dos meus. Eu precisava voltar pra sua cama, cada vez mais.
Numa noite incomum, me perguntou se eu queria ser sua namorada. Aceitei. Quis também que eu morasse ali. Eu quis. Por que só queria estar com ele. Tê-lo em meu corpo tornou-se um vício. A cada orgasmo, eu queria mais.
Numa outra noite incomum, ele disse que me amava... E eu fui tomada por um silêncio inexplicável. Passei horas fazendo amor com ele, e finalmente entendi que também o amava. Algo novo, inédito pra mim, que só conhecia o desejo. Nossos dias e noites eram só nossos...
Percebi que não estava feliz, nem triste. Mas sufocada pelo amor dele. E pelo meu. Queria respirar. Sentir outros ares... Sentia saudades de minha promiscuidade póstuma. Então eu a encontrei. Eu a conheci nesse instante febril. No meio de livros e de milhares de palavras.
Ela era doce e meiga como eu. E selvagem como nunca fui. Estar com ela era ganhar hematomas e voltar a ser como antes. Eu gostava e sempre queria mais. E os dias foram meu inimigo. Estava viciada por aquela mulher. E quando voltava pra casa, ele me aguardava. Faminto, e com os olhos cheios de amor, que ardia em minha pele. Seu abraço aprisionava minha alma. Do qual eu não conseguia me libertar...
Numa tarde comum, eu revelei que tinha alguém. Ela não se importou. Mas ele jamais poderia saber. Ele se importaria. E eu também. Mantê-los em segredo estava me exaurindo. Eu não tinha mais paz. Não queria perdê-los. Mas não podia mais estar com eles. Eu tinha que escolher...
Passei a não vê-la mais. Os dias ficaram cinza. Então eu quis as cores de volta, e o deixei. Estar novamente com ela não me devolveu as cores. Eu percebi que amava os dois... Como pude me escravizar desse jeito?
Fugi deles.Pra tentar me encontrar. Talvez assim consiga respirar. Sentir meu coração batendo novamente.
Um lugar distante de tudo. Uma nova vida. E desejos escondidos...Preciso morrer algumas vezes pra voltar a vida... A febre arde... Sinto-me doente... Preciso morrer quantas vezes forem necessárias.
Preciso voltar a ser como antes.Durmo e acordo.Continua tudo escuro. O vento continuava uivante. Não há vida além da minha janela. Só sobras de sonhos. Desejos que se escondem no meu medo. As lembranças me aprisionam. Eles me visitam em sonhos, e em instantes febris.
Vejo os rostos dos dois. Ouço as vozes, sinto o cheiro de seus corpos. Sinto suas mãos me tocando.Tomando meu corpo e minha vontade própria.Um pesadelo de onde não consigo despertar. Ouço sussurros, gemidos orgásticos e o vento na janela.Os sons do fim. Ainda estou respirando... Estou delirando...
MORRA
(Leia ouvindo "He War " de Cat Power)
Em seus olhos
Li o mal
Encoberto por vísceras
E desejos
Invasão de sonhos
Trancafiados numa caixa
Amarrada por fios vermelhos
Meu corpo se movimenta
Antes do nascer do sol
Rasgando minha pele
No chão que ele pisa
Minha boca lacerada
De sua nudez vítrea
Presa pela dúvida
De sua boca para a minha
Deixe-me ir embora
Instantes de lucidez me tomam
Ainda respiro e me toco
Brilhante e rastejante no chão
Onde ele pisa
Eu preciso sair daqui
Alguém me espera
Voltar à vida
Sem suas mãos
Voltar aos dias
Sem sua boca
Voltar a minha cama
Sem sua presença demoníaca
Violando meu corpo
Fazendo-me sangrar
E ainda assim desejá-lo
Alguém me espera
Eu quero ir embora desse santuário do mal
Eu quero que você morra...
terça-feira, 12 de outubro de 2010
NÃO ME AME
(Leia ouvindo "It's a Fire" do Portishead)
Quinta-feira. Era dia e os sons da rua me deixavam atordoada. Ao cair da noite a tranquilidade começava a surgir.Cheguei no quarto da rua 13 antes dele.Estava ansiosa para vê-lo,pra sentir seus braços e sua língua em meu corpo.Sentia-me em paz quando meu corpo era possuído por ele.Sentia-me plena.Era como um vício.
O quarto onde era nossa alcova ficava num antigo sobrado. Eu gostava do cheiro do lugar. Paredes e portas antigas.Piso e teto carregados com marcas do tempo.Um lugar bonito e certamente cheio de histórias. Era nesse lugar onde eu me entregava ao homem que há quase um ano vem devorando meu corpo e meus desejos.
Enquanto o aguardava, me despindo devagar, lembrei de como nos conhecemos, naquela tarde cheia de sangue e dor. Lembro de suas mãos habilidosamente suturando meu joelho. Gostava do jeito como ele limpava o sangue em minha perna. Observava suas mãos.Imaginei-as em meu corpo. Não demorou muito e logo nos tornamos amantes. Lembrei-me também do brilho da aliança na mão esquerda dele.Não me importava com isso, só queria sentir prazer.
Olhei no relógio e vi que ele estava atrasado. Isso nunca aconteceu antes. Alguns minutos mais e logo a porta abriu e lá estava ele. Mas seus olhos... Havia uma sombra neles. Um aviso. Tentei ignorar isso enquanto sua boca passeava pelo meu corpo.Senti sua respiração mais ofegante que o normal.Seus gestos estavam bruscos.Ele me tocava quase com violência.Não sei de gostava,porque senti que havia algo estranho. Ele me fez ficar de joelhos enquanto eu sentia seu membro em minha boca, quase me sufocando. E me olhava como se me odiasse. Penetrou-me várias vezes vigorosamente. Quase senti medo dele...
Depois de alguns orgasmos, eu quis saber o que estava havendo. Ele me olhou e disse friamente que as coisas mudaram. E que não deveríamos mais nos ver. Começou a se vestir rapidamente.Eu fiquei na cama, olhando perplexa seus movimentos.Porque acabar? Eu não telefonava nunca pra ele, nem ia ao seu trabalho.Não perguntava sobre sua vida pessoal. Eu era a amante ideal. Tinha vida própria. E o principal: eu dava muito prazer a ele. E sentia mais ainda.
Quando ele terminou de se vestir, me olhou e perguntou se eu queria carona pra voltar pra casa. Eu disse que sim. Vesti-me devagar observando ele fumar um cigarro. Ele evitava meus olhos. E eu perguntei por que estava fazendo aquilo. O que eu fiz? O que eu não fiz? A esposa descobriu ?O que houve afinal? Ele só dizia que as coisas haviam mudado.E que era irreversível. E disse que lamentava muito. Nesse instante eu me irritei.Como ele sentia muito e ainda assim estava terminando tudo? Não era bom¿ Encontrou outra pessoa¿ Ele disse que não havia mais ninguém.E que jamais haveria novamente.
Ficamos em silêncio por algum tempo, ambos sentados na cama, lado a lado. Eu peguei em suas mãos e depois de beijá-las, disse que só queria saber o que mudou.Ele segurou as minhas e disse que eu era desprendida e muito jovem,que poderia ter quem quisesse.E eu respondi que estava bem assim, sem cobranças, sem obrigações, sem romance.Minha vida não se limitava a ele.Eu me relacionava com outros homens além dele.Mas com ele era um caso.Um caso sério. E que eu não queria deixar de vê-lo.
Nesse instante ele me olhou e disse que era exatamente isso. As coisas mudaram. Mas não pra mim. Ele mudou. O que sentia agora era diferente. Disse que me amava... Por isso não podia mais me ver. Sentia ciúmes. Insegurança. Largaria a esposa pra ficar comigo. Se nosso caso virasse algo oficial provavelmente deixaria de ser como era. Eu fiquei perplexa com as coisas que acabara que ouvir. Não imaginava que era assim que ele se sentia, e sabia que ele estava certo. Mas porque tinha que acontecer isso? Porque ele se envolveu assim? Era pra ser só sexo..
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Não contive as lágrimas. Fui tomada pela angústia e pela raiva. Olhei pra ele aos prantos e disse: ”Não me ame, eu não quero ver você assim! "
Ele foi embora e eu fiquei lá, lamentando o prazer que jamais teria novamente.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
NOITES COM SOL
(Leia ouvindo "Queer" do Garbage)
Nunca vimos o amanhecer
As horas passam em fração de segundos
Sua prisão o convida a voltar
Quando verei seus olhos no espelho?
Seu corpo deitado no chão manchado
De desejos e avisos escuros
Vestido de nudez e sonhos de amor
Quando ouvirei sua voz ao amanhecer?
Ela o chama
Ela te queima
Te aprisiona pela voz de uma criança
Ela te usa
Te escraviza
Inutilizando você...
O útero dela é o mal
Gerou correntes invisíveis
E compromissos de carne
Quando acordarei com você ao meu lado?
Deseho um sol vermelho na parede
Sempre que você vem
Nossas noites tem o calor dos dias
Teu suor me perfurma incessantemente
Um perfume que é só meu
Exalando desejos e segredos de sangue
Quando beijarei sua boca ao amanhecer?
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