terça-feira, 12 de outubro de 2010

NÃO ME AME


 


(Leia ouvindo "It's a Fire" do Portishead)


Quinta-feira. Era dia e os sons da rua me deixavam atordoada. Ao cair da noite a tranquilidade começava a surgir.Cheguei no quarto da rua 13 antes dele.Estava ansiosa para vê-lo,pra sentir seus braços e sua língua em meu corpo.Sentia-me em paz quando meu corpo era possuído por ele.Sentia-me plena.Era como um vício.

O quarto onde era nossa alcova ficava num antigo sobrado. Eu gostava do cheiro do lugar. Paredes e portas antigas.Piso e teto carregados com marcas do tempo.Um lugar bonito e certamente cheio de histórias. Era nesse lugar onde eu me entregava ao homem que há quase um ano vem devorando meu corpo e meus desejos.

Enquanto o aguardava, me despindo devagar, lembrei de como nos conhecemos, naquela tarde cheia de sangue e dor. Lembro de suas mãos habilidosamente suturando meu joelho. Gostava do jeito como ele limpava o sangue em minha perna. Observava suas mãos.Imaginei-as em meu corpo. Não demorou muito e logo nos tornamos amantes. Lembrei-me também do brilho da aliança na mão esquerda dele.Não me importava com isso, só queria sentir prazer.

Olhei no relógio e vi que ele estava atrasado. Isso nunca aconteceu antes. Alguns minutos mais e logo a porta abriu e lá estava ele. Mas seus olhos... Havia uma sombra neles. Um aviso. Tentei ignorar isso enquanto sua boca passeava pelo meu corpo.Senti sua respiração mais ofegante que o normal.Seus gestos estavam bruscos.Ele me tocava quase com violência.Não sei de gostava,porque senti que havia algo estranho. Ele me fez ficar de joelhos enquanto eu sentia seu membro em minha boca, quase me sufocando. E me olhava como se me odiasse. Penetrou-me várias vezes vigorosamente. Quase senti medo dele...

Depois de alguns orgasmos, eu quis saber o que estava havendo. Ele me olhou e disse friamente que as coisas mudaram. E que não deveríamos mais nos ver. Começou a se vestir rapidamente.Eu fiquei na cama, olhando perplexa seus movimentos.Porque acabar? Eu não telefonava nunca pra ele, nem ia ao seu trabalho.Não perguntava sobre sua vida pessoal. Eu era a amante ideal. Tinha vida própria. E o principal: eu dava muito prazer a ele. E sentia mais ainda.

Quando ele terminou de se vestir, me olhou e perguntou se eu queria carona pra voltar pra casa. Eu disse que sim. Vesti-me devagar observando ele fumar um cigarro. Ele evitava meus olhos. E eu perguntei por que estava fazendo aquilo. O que eu fiz? O que eu não fiz? A esposa descobriu ?O que houve afinal? Ele só dizia que as coisas haviam mudado.E que era irreversível. E disse que lamentava muito. Nesse instante eu me irritei.Como ele sentia muito e ainda assim estava terminando tudo? Não era bom¿ Encontrou outra pessoa¿ Ele disse que não havia mais ninguém.E que jamais haveria novamente.

Ficamos em silêncio por algum tempo, ambos sentados na cama, lado a lado. Eu peguei em suas mãos e depois de beijá-las, disse que só queria saber o que mudou.Ele segurou as minhas e disse que eu era desprendida e muito jovem,que poderia ter quem quisesse.E eu respondi que estava bem assim, sem cobranças, sem obrigações, sem romance.Minha vida não se limitava a ele.Eu me relacionava com outros homens além dele.Mas com ele era um caso.Um caso sério. E que eu não queria deixar de vê-lo.

Nesse instante ele me olhou e disse que era exatamente isso. As coisas mudaram. Mas não pra mim. Ele mudou. O que sentia agora era diferente. Disse que me amava... Por isso não podia mais me ver. Sentia ciúmes. Insegurança. Largaria a esposa pra ficar comigo. Se nosso caso virasse algo oficial provavelmente deixaria de ser como era. Eu fiquei perplexa com as coisas que acabara que ouvir. Não imaginava que era assim que ele se sentia, e sabia que ele estava certo. Mas porque tinha que acontecer isso? Porque ele se envolveu assim? Era pra ser só sexo..
.
Não contive as lágrimas. Fui tomada pela angústia e pela raiva. Olhei pra ele aos prantos e disse: ”Não me ame, eu não quero ver você assim! "

Ele foi embora e eu fiquei lá, lamentando o prazer que jamais teria novamente.

4 comentários:

  1. Sem uma de querer ser sexista, mas: ”Não me ame, eu não quero ver você assim!" sainda da boca de uma mulher chegou a ser sulreal. Seus textos evoluiram pra caramba, sinto rubor quando os leio, isso pra não falar... deixa pra lá :)

    ResponderExcluir
  2. Rsrsrs! Verdade Leo!

    Parece que naturalmente as mulheres querem mais serem amadas...E acho que até verbalizam mais esse desejo! Mas a personagem estava tão feliz com a relação baseada em sexo, que, quando a coisa mudou, ela se desesperou...rsr!

    Obrigada por visitar meu Blog e pelo comentário, fico feliz e muito lisonjeada!
    Beijos de Agnes...

    ResponderExcluir
  3. Você merece tudo de bom, sinto falta do nosso "convívio" diário e adoro ler seus textos, ainda mais agora.

    Bjs.

    ResponderExcluir
  4. Obrigada Leo! Também sinto falta,o RPG era um lugar legal! E você cuidava de tudo de uma maneira admirável!Adorava tudo lá! Crie outro forum que eu volto!

    Volte sempre, todo mês tem atualização! Já estou pensando no tema do próximo mês...

    ResponderExcluir