quinta-feira, 12 de agosto de 2010



ONDE ESTÃO TODOS?


São 7 horas da manhã. O sol está ausente, pela fresta da janela vejo uma penumbra.Agradável aos olhos, quase acariciando minha pele. Porque a penumbra? A hora não é compatível com a ausência da luz. O que está havendo no céu?

Levanto e o chão está morno. O ar também.Mas não está quente. Sinto um cheiro que não sei identificar o que é.  Acendo as luzes, abro as janelas. A luz que entra é vermelha! Me debruço na janela e contemplo o céu totalmente rubro, com nuvens alaranjadas! O que houve com o sol?

As ruas vazias. O silêncio. Eu percorro a casa e percebo que também estou só. O chão e o vento mornos. O cheiro que não sei o que é. O meu cheiro também.Ou estou impregnada? Internet não funciona, muito menos telefones.Nem a TV que eu tanto odeio!Onde estão todos?

Resolvi sair e buscar respostas. Caminhei pelas ruas vazias por muito tempo. Lojas abertas, mas sem ninguém. Portas abertas. Carros abertos. Parece que de repente tudo parou. A vida parou.

Sinto o calor vindo do chão. O ar morno vindo de encontro ao meu corpo. O cheiro ficando mais forte, mais intenso.O céu parecia se mover a cada passo que eu dava. Nuvens bruxuleantes em minha cabeça, parecendo que vai chover a qualquer instante.Tudo vermelho.O som uivante do vento começou a me deixar atordoada.

Minhas roupas aquecem. Fazem minha pele arder. Pinicar. É insuportável sentir o tecido. Eu as removo freneticamente.Todas as peças. O ar quente transfixa meu corpo nu, e a sensação é plena. Continuo andando, sem me importa com minha nudez.

O cheiro mais forte...Agora parece me guiar.O uivo do vento morno me massageia. Minha pele parece tocada por inúmeras mãos. Por vezes eu paro pra sentir esses toques, que se espalham por todo meu corpo, levando-me quase ao orgasmo. Eu corro assustada, pois não vejo ninguém, além do céu de nuvens rodopiantes vermelhas e alaranjadas.

Estou numa extensa avenida, e na próxima esquina vejo um homem. Alto, extremamente magro, a pele totalmente enrugada. Ele também está sem suas roupas e ele tem a expressão catatônica. Eu paro diante dele, e pergunto o que está havendo. Ele permanece imóvel ali, mas de repente levanta o braço e aponta para o outro lado. Há uma outra esquina, e atrás dela há um parque. Um lugar cheio de árvores e que eu costumava brincar quando criança. Eu sinto o cheiro vindo de lá.

Cruzo a rua sem medo de ser atropelada, já que todos os carros estão parados. O vento uivante sopra em meus ouvidos, movendo meus cabelos.Novamente sou invadida pelas mãos mornas e invisíveis disfarçadas de vento. Me jogam contra a parede, fazendo-me paralisar por alguns instantes. De repente, estou livre. E sigo o cheiro. Vejo o parque e suas árvores antigas e imponentes. Ando entre elas rodopiante e cantarolando algo que nem sei em qual idioma está.

Entre as árvores eu vejo um vulcão.Feito de pessoas nuas!As pessoas que não estão na cidade.Todas elas. Todas nuas!Entrelaçadas umas as outras, cheias de loucura e nudez.Vejo o homem catatônico da esquina. As pessoas parecem alucinadas, dopadas, inebriadas pelo cheiro de...sangue! Sangue borbulhante que jorra do centro desse vulcão.Eu paro diante dessa forma insólita, e permaneço com olhar petrificado.Na verdade estou hipnotizada pela imagem.

Agora todos eles olham na minha direção.O sangue escorre e chega aos meus pés. Sinto o solo quente, o cheiro recende em minha volta. O vento uivante ganha mais entonação com a respiração de todas essas pessoas nuas e cobertas de sangue e nudez. Agora eu sei onde estão todos. E eles estão diante de mim.

O vulcão humano se move.Pessoas se beijam, se lambem ,se penetram.Vejo membros, línguas, dedos, seios, nádegas. O vento agora trás cheiro de sangue e ferôrmonio que inunda meu nariz.Minha pele. Minha libido. Eu sou a única que está fora desse cone de carne e de desejos vermelhos, diante da imagem eu constato ser  a mais aterradora e fascinante que já vi. Todos me olham novamente. Esticam seus braços, me chamam e suas vozes fundem-se com o vento, ouço um coro de uivos ensurdecedor e magnético. Um convite irresistível do qual eu não poderia fugir...

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