sábado, 15 de janeiro de 2011

MOMENTO ESTRANHO - Parte Final-

                                                          
                                                         Escrevi ouvindo "Tears" do "Rush"


                                                                                        


Passava das dezoito horas quando eu estava fechando a Floricultura.Lamentei hoje ter odiado estar ali.Adorava o lugar.Mas hoje o dia foi intenso,de um modo que eu não gostava.Mas,enfim,foi produtivo.

Enfim,estava em casa,tomando o banho que desejava a horas e me alongando como costumava fazer.Senti-me bem mais revigorada.Depois de jantar fui relaxar na minha cama vendo TV.Nada interessante nos canais,que eu mudava sem muita empolgação.Pensei em por algum filme,mas sabia que adormeceria nos primeiros minutos.Senti-me entediada...Ou estava apenas cansada!

O sono veio arrebatador.Mas foi interrompido pelo som da companhia.Não sei por quanto tempo dormi,mas acho que foi por pouco tempo.Fui atender,bocejando e fazendo um rabo de cavalo nos cabelos.Quando abri a porta,a surpresa:era ele,meu amigo ausente.Depois de longos oito anos...

Por alguns segundos fiquei plantada ali olhando pra ele,que ria timidamente.Como nos velhos tempos.Também ri,e nos abraçamos.O tempo parecia recuar.A sensação daquele abraço veio à tona,a sensação era a de que ele jamais havia ido embora.Convidei-o a entrar e após lhe mostrar a casa,sentamos na sala e conversamos por algum tempo.

Antes mesmo que eu perguntasse porque ele se foi daquela maneira,fui surpreendida com a resposta.Não precisava mais dele,tinha alguém em minha vida.Sabia que eu ficaria bem.Quando disse que ele estava enganado ele parou de sorrir.Eu senti muito sua falta,e fiquei magoada por sua 'fuga',sentindo-me abandonada.Nenhuma justificativa que ele deu foi pertinente.Mas estava feliz de algum modo.Ele pediu desculpas por toda a ausência que me causou.Eu apenas o olhei.Segurei sua mão.Ele voltou a sorrir.

Olhou-me como antes mas dessa vez verbalizou suas impressões dizendo que agora eu era uma mulher.Havia mesmo crescido.Estava visivelmente diferente.Adulta.Estava mais bonita.Senti-me envaidecida e enrubescida também.O olhar dele era intenso e penetrante.Desconcertante ao extremo.Ele quase falou mais sobre minha aparência, mas conteve-se.Mas disse que voltou pra mim...

Perguntei sobre seu casamento.Ele disse que casou apaixonado.E se separou totalmente em desamor.Mas a aliança ainda estava em seu dedo.E eu vi tristeza em seus olhos.Que ele tentou sem sucesso disfarçar.Eu não disse que sentia muito,porque eu não sentia.

Mas o abracei e disse que 'tudo vai ficar bem'.Senti suas mãos em minhas costas e o calor daquele corpo que eu conhecia de modo inocente.Mas não superficialmente.Conhecia as batidas do seu coração.Sua respiração em vários tons.O cheiro de seus cabelos,a textura de sua pele.Nunca esqueci isso.E tudo permaneceu igual.

Meu desejo por ele era evidente.Bem mais que antes,quando eu escondia.O medo infantil de estragar a amizade o fez ir embora.Mas eu reprimi todas essas vontades...Fugia e me escondia na amizade.Achava que estava protegida. Mas porque demorou tanto pra voltar?

Oito longos anos...Eu vivi sua ausência cada dia.Só criei vínculos amorosos frágeis.Eu realmente esperava por ele.Só que eu não aceitava isso.Fingia estar apenas vivendo normalmente.E agora ele estava ali, diante de mim.Vulnerável.Quase deprimido.Esse podia ser o momento pra tê-lo em minha cama como eu desejava.Como ele queria.Como podia ser.Como deveria ter sido.Mas eu não quero.Não desse jeito.Preciso entender esse momento.Saber como me sinto e o que quero sentir.Não queria me entregar,por mais que o desejo me compelisse a isso.Queria estar com ele de todas as formas,mas não naquele momento.Não desse jeito.

A aliança brilhava no dedo dele.Odiava aquele brilho.Será que ele estava mentindo? Havia mesmo deixado a esposa?Será que eu seria sua transa vingativa?

Ele adormeceu no sofá e nos meus braços.Mas pela manhã quando levantou eu já estava longe.Liguei pra casa e ele atendeu perguntando onde eu estava.Disse que ficaria fora da cidade  por um tempo.Precisava disso.E queria que ele se resolvesse.Mas ele parecia atado.E eu não podia estar com ele desse jeito.Ele poderia ficar na minha casa,se quisesse. Referi-me a aliança.Ele ouviu sem me interromper.Mas se fosse embora deixasse as chaves dentro do vaso de Melissas que ficava ao lado da porta da frente.

Ele disse que quem estava fugindo agora era eu.Mas que esperaria o tempo que fosse necessário.Não havia mais aliança.Que aquele círculo deprimente era o símbolo de algo que acabou.Que não mais existia.Não havia mais ninguém.Porque nunca houve.Disse que sempre foi meu. Agora,estava de volta. E estaria me esperando...





3 comentários:

  1. Ah,sei lá...Gostei, mas...Esperei algo mais forte.Na verdade fiquei aguçada,aguardando mais...Pensando mais...Fiquei mesmo viajando!Gostei,realmenente gostei,porque ficou meio que subtendido.Você é má...

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, Agnes, um texto denso, muito bem escrito, soubeste mesclar intensidade com sutileza, sempre com teus ótimos climas. Abraços!

    ResponderExcluir
  3. Um texto simples, mas escrito com palavras bem escolhidas! Ao terminar esta leitura, tive uma sensação parecida como que da conclusão de um pensamento denso, algo como que resolvido dentro de mim e, também, me perguntei: "poxa, será que Agnes agora tem uma floricultura?...rs..."
    Já te disse uma vez, há um bom tempo atrás, que você me surpreende cada vez mais, Agnes. Já somos amigos há bons anos, lembra? E no decorrer desse tempo, percebo, feliz, o progresso das tuas linhas, da tua criação, da forma como tem escrito cada vez melhor, e isso me faz bem, pois sinto como se a "água" que lancei em tuas pétalas não foi em vão, querida, ao contrário, vingou! Você está cada vez melhor, amiga, acredite... parabéns, viu!? Um abração e um beijão do sempre amigo paulistano,

    the ^..^ Osmar

    ResponderExcluir